Por Anderson Barbosa
Foto: arquivo pessoal |
Quando escolhi o jornalismo como área de atuação profissional tinha certeza que perderia noites para buscar a melhor forma de contar uma história; também imaginava que certamente viveria desafios para superar meus próprios limites e principalmente que não ficaria rico ou seria um pop-estar, como muitas pessoas ainda insistem em enxergar ou esperam de um jornalista.
De todos as situações possíveis de serem imaginadas, só não esperava descobrir que entre uma pauta e outra encontraria pessoas capazes de trazerem ainda mais satisfação naquilo que faço. Falo isso porque em quase sete anos de formado fiz bons e grandes amigos durante a execução do meu trabalho. Outras amizades parecem engatinhar.
Só quebrando a sequência lógica da narrativa, gostaria de registrar também com foi importante não ter acreditado nas palavras de uma prima, logo após ter saído derrotado do vestibular mais concorrido do estado, sem ao menos conseguir a classificação para a próxima fase. Pois bem, se tivesse ouvido àquelas palavras: “você ainda não está preparado para ser jornalista”, dificilmente estaria diante deste computador compartilhando as simples, porém importantes experiências que a cada dia me trazem doses de ânimo.
Agora podemos continuar...
Em pleno século XXI, as mídias sociais – se bem utilizadas - conseguem facilitar a vida de qualquer profissional, independentemente de que área ele seja. Digo isso, para apresentar uma jovem de 17 anos que nas minhas publicações postados no Facebook sempre tecia comentários. Numa reportagem feita por uma colega de emissora, conheci a história de vida dessa jovem e a matéria despertou em mim o desejo de conhecê-la de perto.
Pra quem me conhece, sabe que sou um cara meio desligado. Sou do tipo que pergunta o nome e um segundo depois tem dúvida se está conversando com Josefina ou Sabrina, isso quando consigo lembrar de algum nome. A memória – fundamental na minha profissão – nem sempre funciona como deveria.
Pois bem, com essa jovem conversava praticamente todos os dias na tal rede social. Os seus comentários me ajudavam a escrever mais e mais, seja na rede ou no blog Inclusão Sergipe - o qual mantenho desde 2008. O bobo aqui, mal sabia que em pouco tempo teria a oportunidade de conhecê-la pessoalmente num desses dias corridos de repórter, onde o tempo não é o melhor companheiro para desenvolver qualquer atividade.
A pauta era para mostrar as novidades de uma competição e estava marcada para 15h30 na piscina da mesma universidade onde me formei. Natália Leão, minha personagem, estava 30 minutos atrasada. Eu a esperava...
Para não perder mais tempo, gravei a passagem – que é quando o repórter aparece no vídeo passando algumas informações. Esperei um pouco mais...
Por telefone conversei com a produção na tentativa de localizar a garota e não é que minutos depois lá aparecia Natália com um sorriso no rosto e cheia de sacolas com uma parafernália de coisas: computador, tênis, roupas extras, kit de maquiagem, enfim, muitas coisas que as mulheres adoram carregar para sentiem-se ainda mais belas.
Um boa tarde aqui, uma certificação de horários ali... Só então comecei a pré-entrevista...
Ah! Antes que me esqueça, Natália Leão é paratleta de natação – registrada no Comitê Paralímpico Brasileiro. Ela também disputa provas no atletismo e há poucos meses iniciou a aventura no triathlon. A jovem nasceu com as ausências de antebraço e mão esquerdara não a impediram de fazê-la uma vitoriosa também no esporte.
Quando perguntei sobre a ficha técnica começou a falar tanta coisa que já não sabia o que escrever. Precavida, Natália trouxe umas folhas nas quais estavam o resumo da carreira de atleta iniciada 6 anos antes pelo incentivo do tio, Marcelo Leão, que jogava futebol e sempre mostrou a jovem os bons ensinamentos do esporte.
- Fruto de um namoro entre adolescentes fui criada pela minha avó (Célia Leão) e pelo meu tio ( Marcelo Leão). Foi ele quem me ensinou boa parte de tudo que sei; me desafiava sempre e eu amava os desafios, que eram difíceis, mas ia lá e fazia. Até ganhava alguns trocados (risos), mas o que eu amava eram os elogios dele, era o que me motivava! Como Meu tio jogava MUITO, sempre chegava em casa com troféus e medalhas, eu o idolatrava , achava que Ele era o melhor (risos). Entre nós não existia esse lance de Tio e Sobrinha, às vezes éramos Irmãos, brigávamos bastante, principalmente aos domingos, porque Ele queria assistir Jogo, e eu Gugu (risos). Ele era meu Pai, meu Amigo, meu Tio, meu Irmão, era um Amor Incondicional!
Perdi meu tio aos 12 anos, em um acidente
trágico. Quando chegamos ao local tinham
muitas pessoas em volta. Muito apavorada driblei todos e fui vê o que tinha
acontecido com o meu tio. |Quando olhei para o chão vi o corpo, as sandálias
dele, depois vi meu pai e a minha avó aos pranto. Só então percebi que tinha falecido.
A tristeza bateu, o medo veio com bastante força, pensei logo na minha avó, não
sabia o que iria acontecer comigo, não sabia se ela iria aguentar tal
sofrimento. Só chorava e pedia a Deus forças para suportar aquela situação. Ele
sempre me desafiou então decidir reverter o meu medo em Força de Vontade!
Tão jovem e cheia de conquistas...
Nos Jogos da Primavera (competição estadual que serve como seletiva para as Olimpíadas e Paraolimpíadas Escolares), de 2008 a 2011 foi topo no pódio na natação adaptada. No atletismo, em 2008 ficou com 2 medalhas de ouro; em 2009, 2010 e 2011 foram outras seis medalhas de ouro, duas em cada edição. Nas Paraolimpíadas Escolares foi quarta em 2010, e no ano passado das provas que disputou retornou de São Paulo com um segundo lugar, dois terceiros e uma quarta colocações.
Agora, em 2012, disputou os Jogos Escolares Tv Sergipe e ganhou 2 medalhas de ouro na natação-adaptada e 3 no atletismo-adaptado:
- Foi muito bom participar dos Jogos da TV Sergipe, foi uma competição
diferenciada, onde atletas e paratletas competiram no mesmo lugar, nas mesmas
provas, nos mesmos dias, enfim pude vê que a cada dia o preconceito está sendo
extinto, e que a sociedade como um todo está vendo a capacidade das pessoas com
deficiência.
As medalhas - que em apenas 6 anos foram conquistadas - chamaram a minha atenção. Eram tantas que não resisti: tirei algumas sequencias de fotos, uma delas postadas na minha página de relacionamentos.
Na pista de atletismo, mais
conversa, mais entrevista, mais gravação e outra sessão de fotos. Mesmo
acostumado em fazer matérias à pessoas com deficiência, não tive como ignorar a cena da jovem habilidosa
também para amarrar os cadarços. Ainda brinquei que não tinha a mesma habilidade.
Vaidosa que só, foi dela a ideia de fazer uma imagem calçando a sapatilha e
outras mais que surgiram durante a gravação... E lá foi ela pra mais uma
demonstração.
Ah! E no dia 19 de maio de 2012, Natália viveu outra experiência, agora na triathlon. Esporte que foi motivada por outro paratleta, Ulisses Freitas - que também já tive a oportunidade de contar no blog a história do meu encontro com ele:
Nunca passou por minha cabeça participar de um Triathlon, nadar no rio em uma competição, muito menos. Mas meu amigo e também paratleta Ulisses, me incentivou e com a parceria fomos Campeões, conquistando o primeiro lugar em nossa categoria.
Ah! E no dia 19 de maio de 2012, Natália viveu outra experiência, agora na triathlon. Esporte que foi motivada por outro paratleta, Ulisses Freitas - que também já tive a oportunidade de contar no blog a história do meu encontro com ele:
Nunca passou por minha cabeça participar de um Triathlon, nadar no rio em uma competição, muito menos. Mas meu amigo e também paratleta Ulisses, me incentivou e com a parceria fomos Campeões, conquistando o primeiro lugar em nossa categoria.
O pódio na nova modalidade teve um preço:
- Fui queimada por águas-vivas no triathlon, tive reação alérgica e
vomitei várias vezes após a prova, mas conseguir completar a prova.
Assim como outros atletas, a falta de patrocínio é dificuldade que não a desmotiva. Hoje, com ajuda da Secretária Municipal de Esporte e Laser, de Aracaju, conta com o Bolsa Atleta de Bronze e continua brigando por novas conquistas.
Assim como outros atletas, a falta de patrocínio é dificuldade que não a desmotiva. Hoje, com ajuda da Secretária Municipal de Esporte e Laser, de Aracaju, conta com o Bolsa Atleta de Bronze e continua brigando por novas conquistas.
Dias depois da gravação na
piscina e na pista de atletismo, tive um segundo encontro com Natália Leão. Foi
durante os ensaios da abertura dos Jogos Escolares Tv Sergipe. Qual foi minha
surpresa, Natália estava entre outras meninas da mesma faixa etária segurando a
tocha olímpica. Ela me contou que conduziria tal artifício para acender a pira
olímpica. Mais um sonho por ela realizado:
- No início de maio fui ao treino do vôlei sentado, no Instituto Federal de Sergipe. Chegando lá o professor Osvaldo Mendonça me falou que eu iria participar da abertura dos Jogos Escolares TV Sergipe, representando o para desporto, levando a Tocha! Fiquei bastante emocionada, tentei disfarçar, mas foi inevitável. Os meus olhos brilhavam, o meu riso era involuntário. Sinto-me útil no meu esporte, e espero me doar inteiramente para o que for necessário! Sempre tive esse sonho, sempre! A abertura foi linda, foi como sempre sonhei.
- No início de maio fui ao treino do vôlei sentado, no Instituto Federal de Sergipe. Chegando lá o professor Osvaldo Mendonça me falou que eu iria participar da abertura dos Jogos Escolares TV Sergipe, representando o para desporto, levando a Tocha! Fiquei bastante emocionada, tentei disfarçar, mas foi inevitável. Os meus olhos brilhavam, o meu riso era involuntário. Sinto-me útil no meu esporte, e espero me doar inteiramente para o que for necessário! Sempre tive esse sonho, sempre! A abertura foi linda, foi como sempre sonhei.
Dezessete anos e um ideal bem
definido:
- Agradeço a Deus por realizar casa um dos meus sonhos e por me dá força e bom animo para prosseguir. Esse ano presto vestibular para Educação Física, muitos me poiam, outros não, mas tenho em mente: Eu quero, Eu posso, Eu consigo ! Tenho um grande sonho como profissional de Educação Física, sonho de ajudar o Cento Integrado de Esporte Paratleta (CIEP) a crescer cada vez mais, pois foi através desse clube que aprendi valores, conheci pessoas incríveis, e evolui como cidadã e atleta. Sempre podemos ir além ... Muitas vezes a limitação está dentro da nossa cabeça! Nem por um segundo ouse desistir de tudo que você sonhou para você, lute!
- Agradeço a Deus por realizar casa um dos meus sonhos e por me dá força e bom animo para prosseguir. Esse ano presto vestibular para Educação Física, muitos me poiam, outros não, mas tenho em mente: Eu quero, Eu posso, Eu consigo ! Tenho um grande sonho como profissional de Educação Física, sonho de ajudar o Cento Integrado de Esporte Paratleta (CIEP) a crescer cada vez mais, pois foi através desse clube que aprendi valores, conheci pessoas incríveis, e evolui como cidadã e atleta. Sempre podemos ir além ... Muitas vezes a limitação está dentro da nossa cabeça! Nem por um segundo ouse desistir de tudo que você sonhou para você, lute!
No ano passado, Natália foi
homenageado pelo Conselho Estadual das Pessoas com Deficiência com o troféu
Pipiri, mas é o apoio e o exemplo de vida do
amigo Diel, coordenador do CIEP, que fazem a jovem continuar na luta:
- Diel, grande homem, meu pai no
esporte, exemplo de determinação , de luta, luta pelas causas dos deficientes com todas as suas
forças. Um cara centrado, com o qual aprendi muito com as suas palavras, lutas pelo
CIEP e por cada um dos deficientes que ali se encontram. Enfim, a sua
determinação, a sua força de vontade me
dão mais vontade ainda de lutar pelo
CIEP, e futuramente pretendo me
formar e treinar o núcleo de natação do CIEP.
São histórias como a da sergipana
Natália Leão que me fazem acreditar que limites não são impostos pela vida, mas
pelo medo de falhar, de revelar à sociedade
o quanto somos frágeis... Porém, quando decidimos encará-los, os
resultados muitas vezes acabam nos surpreendendo.