sábado, 18 de fevereiro de 2012

De um passeio no shopping nasce uma amizade

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Por Anderson Barbosa

Definitivamente, shopping centers não é e dificilmente será um  local que terei gosto por passar horas passeando pelos corredores, sempre lotados... Não sei se sofro de algum tipo de problema relacionado a espaços fechados, com grande número de pessoas. O certo é que neste ambiente o meu organismo não parece funcionar bem: as mão suam, ficam geladas, o olhar parece descontrolado e logo o meu cérebro também é afetado. Aí já viu, né? O resultado é um homem fora de sincronia (leitor, não é pra rir da miséria alheia...).
Se você já me encontrou em algum dos shoppings da capital sergipana, certamente deve ter percebido este meu estranho comportamento. Se já falo rápido, a minha dicção só piora. Nos corredores pareço um trem bala entre os centenas de clientes –  que  diferente de mim – não demonstram problema algum. Porém, na última sexta-feira – antes do carnaval – foi diferente.
Foi num shopping que conheci, pessoalmente, o amigo Antônio Barbosa, após longos três meses de saudável conversa no FaceBook. O mesmo sobrenome nos permitiu, desde o primeiro contato virtual, chamar um ao outro de primo. Um aceno no meio na praça de alimentação, o aperto de mão e um abraço foram o bastante pra que os primos se reconhecessem após caminhar entre a multidão, que não era mais problema para mim.


Primo Antônio Barbosa e eu

A ideia era pegar o cinema, por algumas horas substituída por uma longa e prazerosa conversa de reconhecimento.   O passeio veio após o lanche... Pelos corredores pude conhecer outros amigos do primo Barbosa. Ah! Desculpa, esqueci de contar... Antônio Barbosa tem deficiência auditiva, fruto de uma queda quando criança, e por isso ouve muito pouco e é daqueles jovens que ficam pelos corredores conversando com as mãos. Foi por causa deles que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) tornou-se a segunda língua oficial do Brasil.
Pois bem, como dizia, Toninho (como gosta de ser chamado) me apresentou a duas amigas. Os três ficaram o tempo todo conversando em Libras. Eu, na minha ignorância linguística, só observava, sem saber o que tanto falavam e muito menos o que fazer. Uma delas era ouvinte e me ajudou um pouco.  Era o começo de uma tarde de aprendizado. Ganhei até o meu sinal (que para a comunidade surda é a minha identidade) e aprendi outros que vão ser importantes pra minha comunicação com ele e outros amigos, que já foi prometido conhecer. Com as meninas fiz questão de mostrar o sinal presente do primo Barbosa (Eu estava todo cheio, afinal, sempre quis ter o meu sinal, ser reconhecido entre eles por um gesto feito pelas mãos).
O primo Barbosa, é o primeiro amigo com deficiência auditiva com quem  de fato passo horas conversando; com o qual ainda tive direito a uma sessão de cinema no meio do passeio, onde percebi o quanto a legenda é fundamental para eles. Falamos das nossas vidas e logo percebemos amigos em comum. A madrinha dele (Geórgia Poderoso), foi a responsável por me apresentar no mundo do “surdo” lá pelo ano de 2005 e me ajudou bastante no projeto de conclusão do curso de Jornalismo.
Sempre fui apaixonado pelo mundo da inclusão, mas ainda trago alguns preconceitos que em poucas horas o primo ajudou a derrubar parte mostrando – o que em parte já sabia – que a deficiência não é problema e sim um mero detalhe incapaz de impedir a condução normal da vida.

2 comentários:

  1. Perfeito Anderson! Esse realmente é o INÍCIO de um longo aprendizado. Passei alguns meses fazendo Curso básico de Libras, mas perdi muito do que aprendi por ficar temerosa na comunicação através dos sinais e não conseguir ser compreendida.
    Vá adiante! Você está no caminho certo.

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  2. Muito legal! A gente só aprende assim, de coração aberto.

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